Nossa jornada se inicia no dia 6 de outubro de 2023, no Cabanga Iate Clube, em Recife. Nessa expedição, viajamos a bordo do veleiro Touché, sob comando de Gabriel De Capitani. O Touché é um veleiro oceânico de 44 pés com capacidade para acomodar até oito tripulantes a bordo. Em pouco tempo realizamos o primeiro arrasto em cima do naufrágio Virgo, ponto onde também já coletamos colônias de coral-sol • Conheça a Expedição.
Um ponto importante é que durante os arrastos estávamos sempre presos a cabos de segurança conectados ao barco. Com o tempo, fomos nos distanciando cada vez mais do continente e velejando rumo a Salvador, nossa primeira parada. Nesse momento nossos olhos só eram capazes de enxergar o mar.
Os primeiros dois dias foram de adaptação da equipe. Precisamos nos acostumar a fazer tudo em movimento e sentimos um cansaço muito grande ocupados com coisas teoricamente ‘’normais’’, como andar, tomar banho, realizar o arrasto de plâncton e nos alimentar. Passado isso, já estávamos adaptados e, ao longo do percurso, fomos margeando paisagens deslumbrantes.
A execução das coletas foi inteiramente condicionada às mudanças de vento, resultando em variações nos horários e número de coletas realizadas por dia/noite. Além dos pontos pré-determinados, padronizamos um arrasto a cada 50 milhas náuticas entre cada coleta.
Após quatro dias velejando chegamos a Salvador. Nossa equipe aproveitou para realizar uma coleta de colônias de coral-sol no local, uma vez que lá é o ponto mais ao norte onde temos a presença de Tubastraea registrada em substrato natural.
Após enviarmos todo o material à empresa de transporte, fomos passear no Pelourinho, andar pelas ladeiras coloridas e, claro, tomar um banho em terra firme. A tripulação comprou mantimentos para abastecer o barco e pernoitamos no píer para, no dia seguinte, seguirmos viagem.
Foram mais dois dias em alto-mar até chegarmos ao paraíso chamado Abrolhos. Entre os dias 11 e 12 de outubro, realizamos quatro arrastos e, devido à frente fria prevista, nos abrigamos no arquipélago. Chegamos ao amanhecer e fomos presenteados com um nascer do sol de perder o fôlego. Precisamos ficar ancorados durante o dia 13 e aproveitamos para mergulhar, tirar muitas fotos e visitar o farol.
No dia seguinte, mergulhamos nas Ilhas Siriba e Redonda e, após um dia inteiro dentro d’água, fomos mais uma vez surpreendidos. Enquanto estávamos preparando todas as coisas para zarpar e prestigiar mais um pôr do sol, nos demos conta de que era o dia de acontecer um raro eclipse solar. Paramos tudo, agradecemos, pulamos no mar e apreciamos esse presente da natureza.
Os dias foram passando e seguimos descendo a costa sentido Vitória. Nesse período da viagem, o tempo mudou e pegamos muito frio e chuva. As coletas estavam a todo vapor, a equipe adaptada e, cada vez mais, as coisas aconteciam no automático.
Quando nos demos conta já estávamos em Arraial do Cabo, outro local belíssimo por onde nossa equipe passou coletando colônias. Paramos um pouco e descemos mais uma vez para repor o barco com alimentos e diesel e seguir para a reta final.
No dia 20 de outubro, chegamos à Ilha Grande e lá coletamos amostras dentro das ilhas e em frente a um estaleiro. Essa região, em especial, é sabidamente infestada por essas espécies. De lá, sob muita neblina e frio, continuamos a jornada até nosso ponto final na marina Pindá, em Ilhabela.
Assim, ao final dessa expedição, percorremos precisamente 1.330,80 milhas náuticas, que correspondem a 2.464,64 quilômetros. Cada arrasto resultou em quatro réplicas que foram mantidas a temperatura ambiente até a chegada no nosso laboratório localizado no Rio de Janeiro.
Ao longo dos 16 dias a bordo, foram realizados 31 arrastos, que correspondem a 124 amostras. Todos os pontos de arrasto foram estrategicamente selecionados com base nos resultados de modelagem hidrodinâmica. Essa abordagem visou especificamente abranger áreas críticas para a dispersão de larvas, como indicado nos estudos de modelagem.
Dessa forma, a integração dos dados provenientes das coletas de amostras ambientais, da modelagem hidrodinâmica e das coletas de amostras biológicas proporcionará um panorama abrangente sobre a distribuição, movimentação e potencial estabelecimento da espécie Tubastraea spp. ao longo da costa brasileira.
Coletar ao longo das diversas condições do mar a bordo de um veleiro foi uma novidade para toda equipe. Sensações novas, enjoo, coletas de madrugada sob muita chuva ou, de dia, sob muito sol. Aprendemos a nos virar na embarcação, conviver, trabalhar, cozinhar e, assim, se passaram 16 dias de aventura. O cansaço físico era superado a cada pôr do sol com lindas imagens que nossos olhos não vão esquecer. O sinal de internet/wifi foi trocado por uma imersão de contato com a natureza tornando essas expedições uma experiência que todos vão levar para o resto da vida.
Karine Venegas Macieira