Da origem da espécie aos caminhos da invasão

Rota do Coral-Sol

Sobre o Coral-Sol

Biologia

Apesar de ter a aparência de uma flor e não se locomover, o coral-sol é um animal. Ele pertence a um grupo de espécies conhecidas cientificamente como Tubastraea spp., que fazem parte do grande grupo dos Cnidários – animais aquáticos de organização corporal relativamente simples, mas de grande beleza.

Originários dos oceanos Pacífico e Índico, esses corais se tornaram presença notável em diferentes partes do mundo. Eles foram introduzidos por meio da atividade humana nos oceanos, por exemplo, aderindo-se e sendo transportados no casco de navios.

Por representar uma ameaça para a biodiversidade local desses ambientes, onde não são nativos, o coral-sol é considerado uma espécie exótica e invasora nessas áreas.

Atualmente, o Brasil enfrenta um desafio ambiental com a invasão de duas espécies de coral-sol: Tubastraea coccinea, que possui coloração alaranjada, e Tubastraea tagusensis, com tons amarelados.

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O coral-sol é um organismo fascinante com características únicas que contribuem para seu sucesso como espécie invasora. Embora não forme recifes, compõem colônias que ocorrem de forma agregada e fixadas em uma variedade de substratos, tanto naturais quanto artificiais. 

Essa capacidade de se estabelecer em diferentes tipos de materiais é crucial para o sucesso da invasão. Além de ocorrerem em substratos naturais como costões rochosos, o coral-sol pode ser encontrado em grande abundância em uma variedade de substratos artificiais, como estacas de docas, boias, naufrágios, recifes artificiais e em plataformas de petróleo.

Outra particularidade importante da espécie é a grande tolerância ecológica desses corais no Brasil. Eles resistem a altas temperaturas e à dessecação, quando eventualmente são expostos ao ar. Essa habilidade permite que ocupem uma ampla variedade de ambientes, desde os mais rasos até algumas dezenas de metros de profundidade.

Mas o sucesso da invasão do coral-sol no Atlântico Sul também é atribuído, em parte, à ausência ou reduzida predação de Tubastraea spp. quando comparada às suas regiões de origem. A ausência de predadores permitiu que esses corais proliferassem muito bem por aqui.

Ciclo de vida

O coral-sol também é especial porque tem a capacidade de se reproduzir de diferentes maneiras, o que facilita sua rápida disseminação em novos ambientes. Eles são hermafroditas (um mesmo indivíduo pode produzir gametas femininos e masculinos) e podem se reproduzir tanto de forma sexuada como assexuada.

Os corais produzem muitas larvas ao longo de suas vidas, até 300 larvas por cm² de colônia, especialmente por meio de reprodução assexuada. Além disso, começam a se reproduzir quando são muito jovens, com apenas cerca de 2 meses.

As suas pequenas larvas flutuam na água por um tempo, podendo nadar ativamente por até 20 dias (no caso de T. tagusensis) e 14 dias (no caso de T. coccinea). Algumas delas podem viver por até 100 dias. Essas larvas se transformam em grupos de pequenos corais chamados pólipos, que, juntos, formam lindas colônias. Além disso, crescem muito rápido. Em apenas um ano, a colônia pode aumentar em até oito pólipos.

ciclo de reprodução sexuada
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O coral-sol também se espalha de outras formas. Os pólipos podem sair da colônia, deixando o esqueleto para trás e fixando-se em outro lugar, onde crescem novamente. Esse processo acontece especialmente em T. coccinea.

Além disso, as duas espécies têm a incrível capacidade de se recuperar a partir de pedaços de esqueleto com tecido. Isso significa que, mesmo se partes deles quebrarem, eles conseguem se regenerar. Essas habilidades ajudam o coral-sol a se adaptar rapidamente e conquistar novos lugares, tornando-o uma espécie invasora bem-sucedida em diferentes ambientes.

Histórico de dispersão

As duas espécies de coral-sol que atualmente são invasoras no Brasil têm origens bem distantes daqui. 

Enquanto a T. tagusensis foi descrita pela primeira vez em Galápagos (Equador), a T. coccinea foi descrita em Bora Bora, na Polinésia Francesa. Essas são as chamadas “localidades-tipo” dessas duas espécies. Ou seja, as localizações específicas onde o organismo foi originalmente coletado e descrito como base para a descrição da nova espécie.

Apesar da importância das populações de coral-sol nessas localidades-tipo como referência para a biologia dessas espécies, existem muito mais estudos sobre essas espécies nos locais invadidos do que em seus locais de origem. Provavelmente, isso se deve ao impacto que essas espécies causam fora de sua área geográfica nativa.

Rota do coral-Sol é o primeiro mapa colaborativo para o monitoramento global da dispersão da espécie em tempo real.

A ferramenta permite que qualquer pessoa possa compartilhar registros em fotografia ou vídeo submarinos de qualquer parte do mundo. São informações preciosas para a compreensão e controle dessa espécie invasora.

No Brasil, por exemplo, sabe-se que a presença do coral-sol modifica a comunidade de organismos associados ao substrato marinho, tais como costões rochosos e recifes. Ao longo dos anos, na Ilha Grande, o coral-sol, que, no começo, era um organismo raro, passou a ser dominante, expandindo-se cerca de 2 quilômetro por ano.

O desafio ambiental representado pela invasão do coral-sol é tão preocupante que foi considerado prioritário pelo Ibama. O órgão apontou essas espécies como uma das três invasoras de maior prioridade para ação de controle e monitoramento no país.

No entanto, a dispersão do coral-sol pelo mundo não começou pelo Brasil, nem se limita a ele. Além de Bora Bora, a T. coccinea também é nativa de outras localidades no Indo-Pacífico e também se dispersou para o Caribe, Golfo do México e Flórida. 

Por sua vez, a T. tagusensis é nativa não apenas de Galápagos, mas também das ilhas  Cocos, Palau e Nicobar, na Índia, e se dispersou também para o Golfo do México, além do Brasil.

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A invasão dessas espécies no Atlântico Sul teve início na década de 1980, sendo inicialmente registrada em plataformas de petróleo na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. Posteriormente, em 1998, foram identificadas pela primeira vez em substratos naturais, como costões rochosos, em Arraial do Cabo, também no litoral do Rio de Janeiro.

Atualmente, o coral-sol ocupa substratos artificiais e/ou naturais em oito Estados brasileiros, desde o limite sul, em Santa Catarina, até o norte, no Ceará. São eles: Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe e Ceará. Dentre estas áreas de ocorrência incluem Unidades de Conservação em cinco Estados (SC, PR, SP, RJ e BA), o que ressalta a necessidade de ações preventivas e de contenção para proteger a biodiversidade marinha em nosso litoral.